O discurso do presidente em áreas sociais constrange
organizadores e autoridades. O foco será em sua agenda econômica,
principalmente o pacote de privatização e abertura comercial, além dos
planos do ministro Sérgio Moro para combater a corrupção.
Davos sofreu duas perdas importantes em sua programação, após
confirmação das ausências de Trump e Macron no evento internacional. Um
dos dirigentes do fórum não escondeu que, diante dessas desistências,
Bolsonaro desponta como "uma das principais atenções" da edição do
evento em 2019.
Uma lista preliminar dos convidados obtida pelo jornal revela: de
fato, a presença de chefes de Estado traz nomes de pouco destaque
internacional. As apostas recaem sobre a participação de países
latino-americanos, com a presença de líderes eleitos no ano passado,
como o presidente da Colômbia, Ivan Duque, e Lenin Moreno, do Equador, e
de Mario Abdo Benitez, do Paraguai.
Comitiva
Além de Jair Bolsonaro, a comitiva vai contar com os ministros da
Fazenda, Paulo Guedes; da Justiça, Sérgio Moro; e o chanceler Ernesto
Araújo. O filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, também estará
presente. A lista ainda inclui o governador de São Paulo, João Doria, e
Luciano Huck, ainda classificado apenas como "apresentador de TV" na
agenda do Fórum.
O setor privado estará representado pela Apex-Brasil e executivos do
Bradesco, do Banco BTG Pactual - que terá a presença do banqueiro André
Esteves -, Eletrobrás, Embraer, Itaú Unibanco, Petrobrás e Vale.
"Há muita curiosidade para saber o que Bolsonaro é e o que pensa.
Mas, mais que ouvir Bolsonaro, os empresários vão querer buscar
garantias com seu ministro da Fazenda (Paulo Guedes)", comentou um dos
diretores de Davos, sob condição de anonimato. "Ele é de Chicago e isso,
claro, dá certo conforto a muitos que estarão em Davos", disse, em
referência ao fato de Guedes seguir uma linha de pensamento desenvolvida
na universidade da cidade americana, com foco no liberalismo.
Moro também ganhará protagonismo. O ex-juiz fará apresentação sobre
seus planos para reforçar o combate à corrupção aos empresários. O
fórum, que chegou a entregar um prêmio de estadista do ano para Luiz
Inácio Lula da Silva, tinha Marcelo Odebrecht como um de seus
copresidentes e a Petrobras como apoiadora financeira de uma campanha
contra a corrupção.
Atualmente, entre os organizadores do fórum, não se disfarça o
mal-estar diante de algumas das primeiras decisões do presidente Jair
Bolsonaro referentes as minorias e à proteção do meio ambiente. Tampouco
é apreciado o ataque constante do chanceler Ernesto Araújo contra o
"globalismo". Davos, para muitos na Suíça, foi uma das peças centrais
desse processo de construção de uma ordem mundial a partir dos anos
1990.
Pauta
Autoridades europeias acreditam que é o momento de "fazer negócios"
com o Brasil. O presidente da Suíça, Ueli Maurer, e também membro da
direita conservadora, tenta um encontro com o presidente Bolsonaro. A
aceleração do processo para tentar fechar um acordo entre o Mercosul e o
bloco composto pela Suíça e Noruega estão na pauta.
Nem todos na Suíça, porém, aceitam um diálogo apenas sobre economia
com o presidente brasileiro. Para a imprensa suíça, o deputado Carlo
Sommaruga chamou Bolsonaro de "figura terrível" e exigiu que o governo,
ao negociar com o Brasil um acordo de livre comércio, fale em assuntos
como democracia, direitos humanos e minorias.
Elisabeth Schneider-Schneiter, outra deputada suíça, também quer que
seu governo insista em tratar com Jair Bolsonaro "os valores suíços da
democracia, dos direitos humanos e do Estado de direito". As informações
são do jornal O Estado de S. Paulo.
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